Pra quem perdeu..

Tentei esquecer tudo o que me disse na noite passada. Meus passos apressados pela rua, o barulho do vento passando por meus cabelos e chegando até meu ouvido, me confortavam um pouco mais.
Tua voz ainda estava quente, sentia tua respiração em meus ombros. Coisa de doida? Não sei, talvez.
Aquela conversa não me fez bem, eu não estava bem.
O senhor da padaria me deu bom dia e eu não respondi, e eu sempre respondia!
O cachorro que passava, quase atropelo com meus passos desenfreados.
Olhei pra trás, e nada vi. Tentei correr, mas não consegui. 
Essa falta de você já me cegava, entorpecia.
Dei-me conta de que andava sem rumo, não sabia de onde vinha e nem para aonde ia. Eu só ia.
Tinha que ser tão rápido, eu pensei. Tinha?
Te perder de vista, te perder sem pista?
Pensei em entrar num bar, mas as portas estavam fechadas para mim.
Pensei em te procurar, mas lembrei que não sabia onde morava. Tinha apenas a lembrança do táxi que pegamos tarde da noite, e do lugar escuro onde saltou. E se eu ligasse? Liguei, ninguém atendeu.
Você não me atendeu.
E se eu te gritasse? Me ouviria, voltaria? Gritei. Mas não tive resposta.
Continuei andando, pensando e sentindo. Tentando chegar a um lugar que talvez nem existisse. Continuei ligando, gritando e insistindo. Talvez um dia você voltasse a me ouvir, ou até mesmo me atenderia.
Ou talvez como faço hoje, por todos os cantos da cidade... você por mim procuraria.

                                                                                                                       Um velho texto meu.
                                                                                                                                                            

Selva Porto